I. DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
Olha! É como um vaso
De porcelana rara o teu amigo.
Nunca te sirvas dele... Que perigo!
Quebrar-se-ia, acaso...
Fere de leve a frase... E esquece... Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.
IV. DA PREOCUPAÇÃO DE ESCREVER
Escrever... Mas por quê? Por vaidade, está visto...
Pura vaidade, escrever!
Pegar da pena... Olhai que graça terá isto,
Se já se sabe tudo o que se vai dizer!...
V. DAS BELAS FRASES
Frases felizes... Frases encantadas...
Ó festa dos ouvidos!
Sempre há tolices muito bem ornadas...
Como há pacóvios bem vestidos.
VI. DO CUIDADO DA FORMA
Teu verso, barro vil,
No teu casto retiro, amolga, enrija, pule...
Vê depois como brilha, entre os mais, o imbecil,
Arredondado e liso como um bule!
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Ele é o homenageado na EMAT (Uma rosa por São Jorge e um livro por Quintana e Chá Literário) este ano!
ResponderExcluir